Sobre a imperfeição, e sobre como nós podemos viver e amar as pessoas, apesar delas






Publicado originalmente em Abril de 2011

Hoje é comum ver pessoas (leia-se “um monte de gente”) cheias de mágoa ou infelizes porque não “tiveram sorte” (ou a tiveram, mas por uma dessas traquinagens da vida, que as pessoas julgam não ser culpa sua, acabaram deixando escapar) na vida sentimental, ou nas amizades. Fato é que muitos estão separados ou afastados por outras circunstâncias, mas uma grande parcela (maioria, digo sem fazer contas) está (e/ou permanece) assim principalmente porque não conseguiu resistir às pressões (Pressão = Força/Área) da não-reciprocidade ou das imperfeições do outro (e de suas próprias).
Quem sabe, seria melhor elaborar uma estratégia melhor, pra não causar (ou evitar) possíveis transtornos futuros, como entregar à pessoa recém-apresentada, uma carta (ou um manual, ou atestado J) onde se contemplam os aspectos mais marcantes de nossa personalidade! Assim, a pessoa teria a possibilidade (chance!) de se precaver de desilusões, decepções e arrependimentos futuros, por ter se exposto (ou ligado) a alguém que se mostrou incompatível com suas pretensões e anseios (em pontos percentuais para mais ou para menos) futuros e presentes!

Seria mais ou menos assim:


“Sou imperfeito (leia-se “humano”), te adianto logo isso…
Portanto é bem possível que me conhecer e conviver comigo não te dê tudo o que você quer, ou talvez não te esclareça a vida, ou mesmo não resolva teus problemas. Não espere isso tudo de mim (aliás, não espere isso de ninguém, mesmo que esse alguém te prometa, com palavras ou não). Porém, não ignore que sou extremamente dedicado a tornar cada segundo de convivência algo com significado. Não pressuponha que eu consigo tudo. Também não duvide do que posso fazer. Não compre a falsa ideia de que sou previsível. Mas não espere que meu jeito simplesmente se adeque à necessidade do meio, me fazendo ser todo dia uma pessoa diferente. Sou bom em muita coisa, selecione os elogios que quer testar em mim.
Não sou o padrão. Não sou a medida das coisas. Não sou o centro. Sou pequeno. Sou de riso fácil, mas nem tanto. “Rir um pouco é alegria, mas rir de tudo é desespero”, já dizia alguém. Sou firme, resistente, mas é fácil me magoar, e não é necessário muito esforço. Aprender me fascina. Amo escrever e ler histórias, poemas, músicas e pessoas. Sim, leio pessoas. Me importo com o que os outros pensam. Me importo com o que eles fazem, afinal, compartilhamos o mesmo mundo. Mas não vivo em função disso. Sou um bom amigo de poucos. Gosto de compartilhar conhecimento, sabedoria e experiência. Detesto a futilidade. Gosto de boas conversas. Gosto de cuidar. 
Não sou algo pronto, fechado numa caixa, completo, com rótulo, descrição exata e prazo de validade. Não me use. Nem tente. Também não sou de todo mistério. Sou um livro aberto, mas em uma sala onde só autorizados entram, embora toda segurança seja falha e vez por outra entre algum intruso. Gosto de pensar. Meu jeito me dá a chance de conhecer pessoas e me nega também, como era de se esperar (sou humano). Cansei de muita coisa, e aprendi a tolerar muita gente (a recíproca também vale). Não cobro o que não me é devido, nem imponho o que os outros não querem a nenhum custo. Não me limite. Não me limito.
Assine aqui, caso se sinta de acordo, se estiver ciente de que aceita se expor às consequências de conviver comigo.

Ass:_________________________________________________________



Consequências, sem trema (¨)…

Consequências… não trema

Tenso, não?

Mas ora, com isso já daria para pelo menos ter uma curta noção de como esse indivíduo pensa ou vive, e se é de modo aceitável e pretendido por você… Ou não!

Mas há aqui um problema: Quem se conhece? Veja: Quando se gosta de alguém de verdade, tipo o tal do Amor, você não é mais só você. A partir desse ponto, a descrição inicial de “você” começa a sofrer algumas alterações.

O mundo é bem malvadinho… Reflita: Mesmo um espelho, que mostra você a você, só te mostra por fora, e de apenas um ponto de vista: o seu.

Reflita… Você… Mesmo… Espelho…

Claro que não é tão simples assim, caro leitor, “eu compreendo”.

Mas espera aí! Essa pessoa do exemplo não está pronta e acabada! Não aceita mudanças (Torres, 2011)?
– Aceita sim! Ela apenas está descrevendo como se encontra antes do início da caminhada, é um “eu te avisei” antecipado.

Há quem tema isso, (mais uma vez, Torres, 2011) com justificativa sólida:

Ora, se é assim, aí a pessoa nem se esforça para mudar, porque, “tipo”, “sou assim, me aceite"

– Ponto crítico esse! O que deve ser levado em conta é que, cada um sabe que coisas traz na mala, mas o caminho obriga aos dois (ou quantos mais sejam, em se tratando de amizade) que sejam jogadas algumas dessas coisas fora, a fim de tornar possíveis mais passos. Se só um dos dois fizer isso, não caminharão juntos (embora tenham em mente o mesmo destino)! Certamente um dos dois ficará para trás, mesmo que não pare! Pense!

Pare… pense…

– A mudança não é simplesmente uma obrigação, fria, seca e sem razão… é uma necessidade, como respirar. Importante é que ambos se conheçam, a ponto de saber o que é melhor jogar fora da bagagem, pois depois de muitos passos dados, pode ser necessário e vital para a continuidade algo que os dois ou especificamente um tinha, e pode ter sido abandonado, por ter sido considerado “excesso”. Voltar pode implicar em fazer um novo caminho, e não mais do mesmo. Você não será o mesmo, e tão pouco o caminho.

Comentários

Postagens mais visitadas